Páginas

sábado, 13 de janeiro de 2018

RESUMO DO LIVRO " MISSA DO GALO"



O conto "Missa do Galo", de Machado de Assis, foi publicado 
originalmente em 1893, sendo depois incluído na obra Páginas 
Recolhidas, em 1899. É uma narrativa breve, passada em um só 
espaço, apenas com duas personagens relevantes; contudo, trata-se 
de um dos textos mais famosos do autor.

Enredo do conto

Nogueira, o narrador, relembra uma noite da sua juventude e a 
conversa que teve com uma mulher mais velha, Conceição. 
Aos dezessete anos, partiu de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, 
com o intuito de concluir os estudos preparatórios. 
Ficou hospedado em casa de Meneses, que havia sido casado com 
uma prima sua e esposado Conceição em segundas núpcias.


Nessa noite, Meneses tinha ido se encontrar com a amante e Conceição, 
acordada naquele horário tardio, surgiu na sala e começou a conversar 
com o jovem. Falam sobre diversos temas e Nogueira acaba perdendo 
a noção do tempo e esquecendo da missa. A conversa termina quando 
o vizinho bate bruscamente no vidro da janela, chamando o narrador e 
lembrando do seu compromisso. Todas as semanas, Meneses dizia ir 
ao teatro e cometia adultério, algo que todos da casa sabiam: a sogra, 
as escravas, Nogueira e até a própria mulher. O narrador, embora 
estivesse já em período de férias escolares, optara por ficar no Rio de 
Janeiro durante o Natal para assistir à missa do galo na Corte. Tendo 
combinado com um vizinho que iria acordá-lo para irem juntos à missa, 
Nogueira fica esperando e lendo na sala.
Personagens

Nogueira era um jovem estudioso, tímido e solitário, que ocupava o 
seu tempo com “livros, poucas relações, alguns passeios”. É evidente 
a sua atração pela mulher de Meneses, mas também a sua inexperiência, 
que o leva a não saber como agir perante a proximidade súbita entre ambos.

Dividido entre o medo de desrespeitar Conceição e o desejo que sente por 
ela, Nogueira se revela confuso acerca dos acontecimentos daquela noite, 
não chegando nunca a saber as verdadeiras intenções da mulher.

Conceição era conhecida como “a santa”, alguém com “um temperamento
 moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos”. 
Consciente das traições do marido, aparece aproveitar a noite da missa 
do galo e a ausência de Meneses para se aproximar de Nogueira, o 
adolescente que estava hospedado em sua casa.

No dia seguinte, o seu comportamento volta ao habitual, como se o 
encontro e a intimidade da noite anterior nunca tivessem acontecido. 
Depois da morte do marido, Conceição volta a casar.
Análise e interpretação do conto

Este é um conto narrado na primeira pessoa, no qual Nogueira 
recorda o seu breve encontro com Conceição, que deixou uma 
lembrança forte mas também a dúvida acerca do que houve entre 
ambos naquela noite.

Logo na primeira frase, “Nunca pude entender a conversação que 
tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela 
trinta.” o leitor é informado acerca da natureza críptica e misteriosa 
do encontro.
Tempo

A narração é retrospetiva, contando acontecimentos que tiveram 
lugar no passado. Não sabemos que idade o narrador tem no 
momento em que escreve, apenas que já é adulto e continua se 
questionando sobre as intenções de Conceição naquela noite.

A sua memória parece falhar em relação a vários detalhes do 
episódio, começando pela própria data, uma vez que refere que 
foi na véspera de Natal de "1861 ou 1862”.
Espaço

A ação decorre no Rio de Janeiro, lugar onde estava situada a Corte. 
Tudo o que nos é narrado acontece em casa de Meneses, mais 
especificamente na sala. A descrição aponta para uma casa burguesa, 
decorada com sofás, poltronas e canapés mas também dois quadros 
de figuras femininas, uma delas Cleópatra, que parecem conferir ao 
espaço um certo clima de lascívia que contrasta com a suposta pureza 
de Conceição.

É a própria mulher que chama a atenção para este fato, dizendo que 
"preferia duas imagens, duas santas" e que não acha próprio estarem 
"em casa de família". Assim, podemos interpretar os quadros enquanto 
símbolos do desejo de Conceição, reprimido pelas pressões da sociedade.
Conceição e Meneses: casamento e convenções sociais

O casal, que vivia com a sogra e duas escravas, acolheu Nogueira quando 
este se mudou para o Rio de Janeiro. A família vivia segundo "costumes 
velhos": "Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez 
e meia a casa dormia.”.


Sobre Meneses sabemos muito pouco, além das suas indiscrições com 
uma mulher separada. Sobre Conceição, sabemos que foi deixada 
sozinha na véspera de Natal, que o marido decidiu passar com a amante. 
Talvez pelo peso da data, ou por cansaço e revolta com a situação, ela 
decide se aproximar de Nogueira, embora o adultério não chegue a ser 
concretizado.Vivendo segundo princípios morais tradicionais e 
conservadores, comuns na época, o casal reproduzia comportamentos 
injustos e sexistas. Meneses tinha uma amante, com quem se encontrava 
semanalmente, e a esposa tinha que se resignar e aceitar a traição calada, 
para não provocar escândalo.

Confirma, no entanto, a frieza de seu casamento e a vontade implícita de 
se envolver com outro homem, que se verifica depois, quando Meneses 
morre de apoplexia e Conceição se casa com o seu escrevente juramentado.
Conceição e Nogueira: sugestões de desejo e erotismo
O DIÁLOGO

Enquanto Nogueira lia Dom Quixote e esperava a hora da missa, 
Conceição apareceu na sala, se sentou de frente para ele e perguntou 
"Você gosta de romances?". A questão, aparentemente inocente, 
poderia carregar um significado oculto, probabilidade que vai parecendo 
cada vez mais forte com o desenrolar da conversa.

Começaram por falar de livros e os assuntos foram se sucedendo de forma 
um pouco aleatória, como se o que importasse realmente fosse continuarem 
ali, juntos, e o diálogo funcionasse apenas como uma desculpa para 
partilharem aquele momento de intimidade.

Quando o narrador se empolgava e falava mais alto, logo ela lhe dizia 
“Mais baixo! Mamãe pode acordar.”, confirmando o clima de secretismo 
e de algum perigo que corriam, pois não seria apropriado uma mulher 
casada estar conversando com um jovem àquelas horas da noite.
O DESEJO

Apesar da sua inexperiência e visível confusão acerca do que estava 
acontecendo, Nogueira reparou que Conceição não tirava os olhos dele 
e que "de vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los", 
num gesto insinuante que ele não conseguia ignorar.

Através da narração, percebemos que o olhar de Nogueira estava também 
fixado na mulher de Meneses, atento a cada movimento, admirando cada 
detalhe: o balanço do seu corpo ao andar, os seus braços, até "o bico das 
chinelas", possível metáfora para os seus seios. Se antes, o rosto de 
Conceição era "mediano, nem bonito nem feio", subitamente "ficou linda, 
ficou lindíssima".

Assistimos à transformação de Conceição aos olhos de Nogueira, que 
deixou de vê-la como "santa" e passou a encará-la enquanto mulher 
sensual e provocante, que o "fazia esquecer a missa e a igreja”.


Significado de "Missa do Galo": 

Machado de Assis e o Naturalismo

O encontro foi interrompido pelo vizinho, que bateu no vidro da janela 
chamando Nogueira para a missa do galo. Já na igreja, o narrador não 
conseguia esquecer o que tinha vivido: "a figura de Conceição interpôs-se 
mais de uma vez, entre mim e o padre". No dia seguinte, ela agiu 
normalmente, "natural, benigna, sem nada que fizesse lembrar a 
conversação da véspera”, como se nada daquilo tivesse sido real.

Neste conto, são visíveis as influências naturalistas: a preferência pelas 
descrições psicológicas em detrimento das físicas, a exploração da 
sexualidade e da psique humana, suas vontades escondidas e 
comportamentos que não são socialmente aceites.

Embora o conto trate, de alguma forma, o tema do adultério (não só de 
Meneses com a amante mas também de Conceição com Nogueira), na 
verdade, o único contato físico entre ambos foi um leve toque no ombro. 
Assim, não houve concretização do desejo que sentiam um pelo outro; o 
que é relevante aqui não é o que realmente aconteceu, mas o que poderia 
ter acontecido.

Machado de Assis, no seu estilo bastante peculiar, contrapõe sagrado e 
profano, vontade e proibição, desejo carnal e compromisso moral de 
forma primorosa, tornando este texto de temática aparentemente simples 
(duas pessoas conversando, durante a noite) numa narrativa carregada de 
simbologia. Por tudo isto, "Missa do Galo" continua sendo um dos escritos 
mais célebres do autor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário